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Aplicação de Toxina Botulínica

Espasticidade e seu tratamento – Uma abordagem integral 

O que é espasticidade?

 A espasticidade é uma forma de hiperatividade muscular que ocorre quando a comunicação entre o cérebro e a medula espinal é interrompida por diversos tipos de lesão, como por exemplo Acidente Vascular Encefálico (AVE), Lesão Medular, Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), Paralisia Cerebral (PC), entre outros¹.

Apesar de apresentar alguns benefícios, como manter o tônus muscular no auxílio de algumas funções motoras, prevenir atrofia muscular intensa, perda óssea e edema², a espasticidade pode se tornar uma barreira para atividades diárias de vida diária (vestuário, higiene), caminhar, sentar-se, para o posicionamento em geral, para o sono, e possui estreita relação com queixas de dor e rigidez².

Dados de Prevalência:

  • Até 43% dos pacientes pós AVC apresentam espasticidade3,4  
  • 50% dos pacientes com TCE desenvolvem espasticidade5
  • Cerca de 80% dos paciente com Paralisia Cerebral desenvolvem espasticidade6
  • Dentro do primeiro ano de lesão, 78% dos pacientes com Lesão Medular irão desenvolver espasticidade7

Por que tratar?

  • Ela é comumente associada a dor, desconforto e aumento de carga de cuidados1,2;
  • Além do impacto sobre os pacientes, a espasticidade aumenta a sobrecarga e o nível de depressão experimentados por seus cuidadores8
  • A remoção de gatilhos para a espasticidade é parte importante do tratamento e otimiza seu tratamento, levando a menor necessidade de técnicas invasivas de tratamento9;
  • Reduzir a gravidade da espasticidade e suas complicações a longo prazo podem ser facilitadas pela intervenção precoce4;

Visão Geral do Tratamento da Espasticidade

O tratamento da espasticidade geralmente envolve uma combinação das seguintes opções1,2,4,6,7,9–11:

  • Manejo postural: uso de órteses adequadas, correto posicionamento e estratégias de manutenção de amplitude de movimento a serem implementadas em ambiente domiciliar pelo paciente e pelo(s) cuidador(es);
  • Exercícios: alongamento passivo, treino de força, estimulação elétrica funcional (FES), treino de atividades de vida diária, treino de equilíbrio
  • Minimizar fatores gatilho para espasticidade: os gatilhos são situações que podem causar um aumento, muito vezes importante, da espasticidade. Ulceras de pele, infecção de qualquer origem, constipação intestinal, funcionamento da bexiga, mau posicionamento sentado ou deitado são todos fatores que podem aumentar a espasticidade, e a simples remoção do fator pode fazer com que a espasticidade diminua de intensidade;
  • Medicações orais: redução global do tônus muscular
  • Bloqueios neurolíticos com toxina botulínica: injeções nos músculos afetados que podem diminuir os sinais musculares que causam espasticidade. As injeções fornecem alívio temporário, permitindo a implementação de outras medidas não invasivas de tratamento (exercícios terapeuticos e órteses)
  • Procedimentos ortopédicos: quando a espasticidade permanece longo tempo com o paciente e as medidas mais conservadoras citadas anteriormente não forem implementadas ou não tiverem sido efetivas, pode ser necessário o tratamento cirúrgico de deformidades e alterações de alinhamento decorrentes da espasticidade;
  • Procedimentos neurocirúrgicos: procedimentos cirúrgicos para destruir (ablacionar) os nervos motores das raízes espinhais sensoriais podem parar a espasticidade ou para implante de dispositivos para oferta de medicações diretamente sobre o sistema nervoso central.

O protocolo de tratamento e as ferramentas de avaliação e acompanhamento de pacientes com espasticidade devem: (1) ter como base dados individualizados objetivos; (2) ser relevante para o que está sendo medido (isto é, sintomas, avaliações posturais, função, etc); (3) direcionadas ao alcance de metas prioritárias que sejam aingíveis pelo tratamento proposto e ao mesmo tempo relvantes e para o indivíduo4,9,12.

As necessidades de tratamento não são as mesmas para todos os pacientes com espasticidade, e a espasticidade incapacitante deve ser distinguida daquela que gera déficits menos graves4.

Como medir a eficácia da toxina botulínica no tratamento de pacientes com sequelas neurológicas e espasticidade?

Segundo a normatização da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o procedimento de aplicação de toxina botulínica deve ser coberto por todos os planos de saúde regulamentados (https://bit.ly/1vT21iQ).

A correta indicação do tratamento, a escolha de doses e pontos de aplicação e a orientação familiar  e de terapeutas, além da uso de opções terapêuticas complementares (órteses, exercícios, medicações orais, entre outros), podem otimizar e racionalizar o uso dessa ferramenta terapêutica.

A Escala de obtenção de metas (GAS) oferece uma estrutura para revisão colaborativa de metas, gerenciamento de metas e pactuação de metas com os pacientes e cuidadores. E também fornece um resultado centrado no paciente, podendo ser usada para avaliar os ganhos da reabilitação nas áreas que mais importam para os pacientes e suas famílias. A maioria dos pacientes terá mais de um objetivo para tratamento. Alguns objetivos podem ser mais importantes para o paciente do que outros, e certos objetivos serão mais difíceis de alcançar. O GAS fornece uma abordagem estruturada para a avaliação de realização de metas, que leva em conta essa variação9,13,14.

Através da seguinte abordagem estruturada de tratamento podemos potencilizar e racionalizar o uso da toxina botulínica:

* Modelo SMART: metas devem ser específicas, mensuráveis, alcançáveis, realistas/relevantes e com tempo para mensuração definido previamente.
** Medidas adjuvantes individulizadas: uso de órteses, medicações orais, orientação de exercicios domiciliares a serem implementados pela família, terapeutas ou cuidadores do paciente (as orientações e consultoria em Fisioterapia podem ser oferecidas em nossa clínica por fisioterapeutas com experiencia na área).
*** GAS: Goal Attainment Scale.

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Bibliografia

1. Nair, K. P. S. & Marsden, J. The management of spasticity in adults. BMJ 349, g4737 (2014).

2. Spasticity Information Page | National Institute of Neurological Disorders and Stroke. Available at: https://www.ninds.nih.gov/Disorders/All-Disorders/Spasticity-Information-Page. (Accessed: 9th August 2018)

3. Urban, P. P. et al. Occurence and clinical predictors of spasticity after ischemic stroke. Stroke 41, 2016–2020 (2010).

4. Wissel, J. et al. Post-stroke spasticity: predictors of early development and considerations for therapeutic intervention. PM R 7, 60–67 (2015).

5. Wedekind, C. & Lippert-Grüner, M. Long-term outcome in severe traumatic brain injury is significantly influenced by brainstem involvement. Brain Inj. 19, 681–684 (2005).

6. Spasticity – Causes, Symptoms and Treatments. Available at: https://www.aans.org/. (Accessed: 9th August 2018)

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8. Zorowitz, R. D., Gillard, P. J. & Brainin, M. Poststroke spasticity: sequelae and burden on stroke survivors and caregivers. Neurology 80, S45-52 (2013).

9. Turner-Stokes, L. et al. A comprehensive person-centered approach to adult spastic paresis: a consensus-based framework. Eur. J. Phys. Rehabil. Med. 54, 605–617 (2018).

10. Sommerfeld, D. K., Gripenstedt, U. & Welmer, A.-K. Spasticity after stroke: an overview of prevalence, test instruments, and treatments. Am. J. Phys. Med. Rehabil. 91, 814–820 (2012).

11. Turner-Stokes, L. et al. Impact of integrated upper limb spasticity management including botulinum toxin A on patient-centred goal attainment: rationale and protocol for an international prospective, longitudinal cohort study (ULIS-III). BMJ Open 6, e011157 (2016).

12. Turner-Stokes, L., Fheodoroff, K., Jacinto, J., Maisonobe, P. & Zakine, B. Upper limb international spasticity study: rationale and protocol for a large, international, multicentre prospective cohort study investigating management and goal attainment following treatment with botulinum toxin A in real-life clinical practice. BMJ Open 3, (2013).

13. Turner-Stokes, L. et al. Goal attainment scaling in the evaluation of treatment of upper limb spasticity with botulinum toxin: A secondary analysis from a double-blind placebo-controlled randomized clinical trial. J. Rehabil. Med. 42, 81–89 (2010).

14. Turner-Stokes, L. Goal attainment scaling (GAS) in rehabilitation: a practical guide. Clin. Rehabil. 23, 362–370 (2009).